terça-feira, 18 de outubro de 2011

Músculos que o ciclista acha que não usa



Dois grupos musculares são pormenorizados ou desvalorizados por técnicos e preparadores físicos, os músculos posteriores da coxa  e os posteriores da perna.


Quando analisamos o movimento do ciclista na bicicleta, é possível perceber que as articulações do quadril e do joelho são as que apresentam maior amplitude de movimento comparada à articulação do tornozelo. De forma qualitativa, também sabe-se da grande contribuição destas articulações (quadril e joelho) para a produção de força na pedalada, visto que nestas cruzam os principais músculos utilizados para gerar potência no ciclismo.
Do ponto de vista anatômico e funcional, dois grandes grupos musculares são destacados como principais responsáveis pela produção de força no ciclismo. São eles os extensores do quadril (Glúteos e outros) e os extensores do joelho (Quadríceps, músculos anteriores da coxa).
A importância destes músculos é observada tanto na prática do ciclismo, como na avaliação da função muscular em laboratório. No entanto, dois outros grupos musculares são pormenorizados ou desvalorizados por técnicos e preparadores físicos, os músculos posteriores da coxa (Isquiotibiais) e os posteriores da perna (“panturrilha”).
Estudos realizados nos últimos 20 anos vêm propondo que os músculos posteriores da coxa e da perna possuem a função de transferir ao pé-de-vela a força que é produzida pelos extensores do quadril e do joelho. Na figura 1, é possível observar um desenho esquemático do membro inferior em quatro instantes da fase de propulsão da pedalada.
Nos dois primeiros instantes, nos quais o pé-de-vela se encontra no primeiro quadrante, a maior ativação muscular ocorre para os músculos glúteos e anteriores da coxa (devido a extensão do quadril e joelho), enquanto nos instantes 3 e 4, esta força é transferida ao pé-de-vela pelos músculos da parte posterior da coxa e da panturrilha. Muitos se perguntariam como é possível um músculo transferir força. Tentemos imaginar os músculos como elásticos, os quais quando alongados, armazenam energia potencial que pode ser liberada no movimento como energia cinética (movimento).
Esta função é de grande importância em gestos que envolvem o movimento de mais de uma articulação ao mesmo tempo, como o salto, a corrida, o agachamento e o ciclismo. Assim o músculo consegue transferir energia através da articulação resultando no movimento que acarreta a pedalada e a produção de potência.




Vetor da força aplicada no pedal em  relação às articulações do joelho e do quadril. (1) e (2) indicam predominância da força produzida pelos extensores do joelho e do quadril, enquanto (3) e (4) indicam a transferência desta força ao pé-de-vela pelos músculos posteriores da coxa e da panturrilha.


Com isso é importante para o ciclista manter um bom nível de força dos músculos posteriores da coxa e dos músculos da panturrilha. A maior capacidade destes músculos para a produção de força será fundamental na sua função de transmitir ao pé-de-vela a força gerada pelos potentes músculos glúteos e anteriores da coxa (quadríceps), principalmente durante a fase de propulsão.

No ciclismo, de nada adianta possuir uma grande capacidade de força nos glúteos e no quadríceps e apresentar fraqueza dos isquiotibiais e da panturrilha, pois se perde em eficiência para a aplicação efetiva desta força. O treinamento com pesos visando o equilíbrio de força entre estes grupos musculares se faz necessário, mesmo quando o indivíduo ainda não apresenta diferença importante na capacidade de força entre estes músculos.

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